terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tem uma conta que não fecha

Alan Caldas

editor

Final de ano é fazer as contas. Dívidas. E cré­ditos. É para contar desamores. E amores. Contar sorriso do filho e lençóis e bate-boca com a patroa. Contar reformas no carro e na casa, ah, e na bicicleta que (finalmente!!!) consertamos.

Nem toda conta é tragédia. Conte a música que ouviu e lembrou de quem já lhe foi tão cara.

É bom contar os dias finais do ano passado. E cruze os dedos para que os deste sejam mais fantásticos de coisas boas e péssimos de fatos ruins.

As contas financeiras? Ai, ai, ai.... não acabam. Roupa para réveillon, espumante para tim-tim, comida para a ceia. E viagem.

E os amigos? Os que não foram financeiramente bem, apostam que você dará uma contribuição para que eles, coitadinhos, possam mergulhar em champagne e brindar o ano novo. Afinal, você é amigo ou inimigo? Então, contribua com os carentes, pô! E não cuspa para cima, pois um dia VOCÊ é que poderá precisar deles, então uma mão lava outra, as duas lavam o rosto e ou você os ajuda agora ou eles um dia não ajudarão você. Certo?

As contas da família são de chorar. E as piores são as contas morais. A mãe dizer “este ano você ligou só seis vezes pra mim”. O filho lembrar que esqueceu ele na creche. A filha flautear que prometeu levar ela e não levou.

E a fé? Fé só existe se for cega. Mas não é fácil ver o semblante amigo do padre lembrar dízimos que não colaboramos e missas (ah meu Deus!) que não assistimos.

As contas do trabalho são doloriiiiidas. Para quem é patrão é a época de pagar o pato: 13º, 14º, férias, licença disso, imposto daquilo. Já quem é empregado, o que ganha nunca dá para tudo que pedem. Patrão e empregado são dois lados, mas uma só moeda.

Contas boas de fazer são as dos sorrisos. Amizades que fizemos e refizemos.

Pessoalmente, contabilizo neste ano maneiras novas de ver as velhas coisas de sempre. É que me enchi de humildade e contabilizei acordos dignos que transformaram em amigos antigos adversários que pude sinceramente passar a admirar. Entre estes, estão um ou dois da política, e que agora passo a admirar e respeitar. Isso melhora qualquer ano ruim.

Por fim, sou obrigado a dizer que este ano mais uma vez ficará no contas a pagar aquela continha sexual. E é capaz de que quem é credor nisso vá ter de colocar esse crédito no “fundo perdido”. E não é que não queira botar esse balanço sexual em dia. É que certas “dívidas”, mesmo você querendo pagar, não consegue. E isso, neste final de ano é a coisa que mais me dói. Ai, como dói...