quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Beatles, a síntese da nossa esperança

Alan Caldas

Paul McCartney dizendo “Boa noite Porto Alegre” pegou de surpresa 50 mil pessoas no estádio Beira Rio. “Ele fala português”, disse uma moça do lado. E sua mãe, uma jovem senhora de 50 anos, rebateu:

- Claro, minha filha. Beatles falam a língua do mundo.

A música dos Beatles começou o diálogo internacional. Começou a aldeia Global de hoje. E Liverpool, a pequena cidade da Inglaterra, conseguiu com seus quatro jovens conquistar o mundo. Conquista, me arrisco a dizer, igualável a dos portuguesa, 500 anos antes, com as descobertas marítimas.

É quase impossível alguém dizer que “não gosta” de Beatles. Eles mudaram o modo de ouvir da humanidade. Não foram os primeiros. O mundo teve várias divisões entre antes e depois. A mais importante foi Jesus Cristo, criando AC e DC. Depois os navegadores portugueses, que com naus precárias e gigantesca coragem atravessaram o Bojedor, foram além da dor e descobriram “novos mundos”, derrubando a teoria da terra plana.

Beatles tiveram a mesma importância nos costumes. Suas músicas, a batida no violão, guitarra, contrabaixo e bateria, os acordes, as baladas, tudo musicalmente subiu um degrau e o mundo culturalmente se modificou.

Eram rapazes comportados, os Beatles. Filhos de boa família que cantavam músicas delicadas e amáveis.

Aliás, quem viu Paul McCartney ontem cumprimentar todo mundo, ser gentil com motoristas, garçons e porteiros dar a mão e dizer “muito obrigado” a todos que o encontravam, viu de certa forma o mundo que vivíamos nos anos 60. Viu um mundo de pessoas carinhosas e amorosas, pois assim éramos nós, de quem os Beatles ergueram-se como uma síntese.

Os Beatles desacomodaram nosso mundo com música, cabelos, alegria e sons diferentes do cinza cultural de então.

Beatles vieram e passaram. Como tudo. Mas ainda hoje, se escutamos um contrabaixo soar acordes de Beatles, um jorro de alegria e esperança borbulha sorrisos dentro de nós. E foi o que se viu domingo: um jorro de esperança.

Sabemos que é o passado de 45 anos atrás.

Sabemos que Paul está velhinho.

Sabemos que o anti-amor matou Lenon.

Sabemos que a música evoluiu e a batida que se ouviu domingo não é mais a batida que o mundo aceita e quer.

Tudo bem. Sabemos tudo isso. Mas pô: é uma batida legal, não é? É uma batida sem depressão. É uma batida que não te leva a tomar lítio, a saltar pela janela ou te entregar ao álcool. E sabe por que é assim? É porque essa é a batida de uma geração que acreditou sinceramente na paz, no amor e na fraternidade entre culturas e povos.