Alan Caldas
Paul McCartney dizendo “Boa noite Porto Alegre” pegou de surpresa 50 mil pessoas no estádio Beira Rio. “Ele fala português”, disse uma moça do lado. E sua mãe, uma jovem senhora de 50 anos, rebateu:
- Claro, minha filha. Beatles falam a língua do mundo.
A música dos Beatles começou o diálogo internacional. Começou a aldeia Global de hoje. E Liverpool, a pequena cidade da Inglaterra, conseguiu com seus quatro jovens conquistar o mundo. Conquista, me arrisco a dizer, igualável a dos portuguesa, 500 anos antes, com as descobertas marítimas.
É quase impossível alguém dizer que “não gosta” de Beatles. Eles mudaram o modo de ouvir da humanidade. Não foram os primeiros. O mundo teve várias divisões entre antes e depois. A mais importante foi Jesus Cristo, criando AC e DC. Depois os navegadores portugueses, que com naus precárias e gigantesca coragem atravessaram o Bojedor, foram além da dor e descobriram “novos mundos”, derrubando a teoria da terra plana.
Beatles tiveram a mesma importância nos costumes. Suas músicas, a batida no violão, guitarra, contrabaixo e bateria, os acordes, as baladas, tudo musicalmente subiu um degrau e o mundo culturalmente se modificou.
Eram rapazes comportados, os Beatles. Filhos de boa família que cantavam músicas delicadas e amáveis.
Aliás, quem viu Paul McCartney ontem cumprimentar todo mundo, ser gentil com motoristas, garçons e porteiros dar a mão e dizer “muito obrigado” a todos que o encontravam, viu de certa forma o mundo que vivíamos nos anos 60. Viu um mundo de pessoas carinhosas e amorosas, pois assim éramos nós, de quem os Beatles ergueram-se como uma síntese.
Os Beatles desacomodaram nosso mundo com música, cabelos, alegria e sons diferentes do cinza cultural de então.
Beatles vieram e passaram. Como tudo. Mas ainda hoje, se escutamos um contrabaixo soar acordes de Beatles, um jorro de alegria e esperança borbulha sorrisos dentro de nós. E foi o que se viu domingo: um jorro de esperança.
Sabemos que é o passado de 45 anos atrás.
Sabemos que Paul está velhinho.
Sabemos que o anti-amor matou Lenon.
Sabemos que a música evoluiu e a batida que se ouviu domingo não é mais a batida que o mundo aceita e quer.
Tudo bem. Sabemos tudo isso. Mas pô: é uma batida legal, não é? É uma batida sem depressão. É uma batida que não te leva a tomar lítio, a saltar pela janela ou te entregar ao álcool. E sabe por que é assim? É porque essa é a batida de uma geração que acreditou sinceramente na paz, no amor e na fraternidade entre culturas e povos.