Alan Caldas
Não sei quando aconteceu, mas já não consigo acreditar numa única palavra que político diz. Me esforço por crer, mas não consigo.
Me dei conta disso escutando o discurso de vitória da dona Dilma. Ela prometendo defender “a liberdade de imprensa” me soa falso. Sei que não é, mas me soa falso.
E não é nada pessoal com ela. Não votei nela, mas de certa forma torci para que se desse bem. Não para que ganhasse, pois votei no Serra, mas para que continuasse viva. O câncer que dizem que ela tem me preocupa. Sei que para muitas pessoas, chegar ao poder é até mais interessante que viver. Tancredo Neves que o diga. Mas toda vez que diziam “ela tem câncer”, algo ruim me tocava e intimamente pedia que ela fosse protegida.
Então, não é com ela, Dilma, nem com o discurso de derrota do Serra, desejando “boa sorte” à ela, no que também não creio. É com todos. Não creio mais em palavra de político.
Em 30 anos de jornalismo, fiquei estéril ao que políticos dizem. Tudo que a dona Dilma disse ontem me entrou por um ouvido e saiu pelo outro, sem deixar marca. E assim tem sido com todos, os que gosto e os que não gosto.
É ruim isso. Significa que minha intimidade de cidadão não confia mais nas pessoas da política.
Me tornei brasileiro? Pode ser. Já penso que na política todos chegam para se beneficiar. E tudo de bom que dizem que farão aos outros é apenas parte da dissimulação e simulação. No fundo, o que querem é se dar bem.
Estou assim. Mas não gostaria de estar assim. Me faria melhor ser crente. Aleluia!
Que saudade tenho daquela época que eu engravidava pelo ouvido. Que saudade daquele Alan para o qual os líderes pareciam confiáveis e reais em seus discursos.
Me afastei da esperança? Me afastei da mentira. Talvez a verdade apenas me baste.
Isso não vai me fazer bem!!!!
O fato é que começo detestar isso de nós, da imprensa, ficarmos como cães de Lázaro aos pés da mesa de políticos que não convidaríamos para criar nossos filhos e só torcendo para que deixem cair migalhas de informações com as quais lhes daremos através de nosso trabalho o destaque que eles não merecem ter.
Estou triste comigo mesmo. É que cheguei ao ponto em que nada espero da dona Dilma, nada espero do seu Tarso e nada espero do seu Miguel. Desejo-lhes sucesso, é certo, e estou disposto a ajudá-los a ter sucesso. Mas nada mais deles me interessa.
Que saudade da ingenuidade.
Que saudade da inexperiência.
Que saudade do tempo em que me faziam de bobo e eu acreditava e ficava bem feliz.