Alan Caldas
Narinha classificava homens por tipos.
- O cara é assim: tipo grande, entende?
Tinha tipo de todo tipo: pequeno, médio, gigante. E Narinha conhecia cada tipo esquisito. Mas teve um que deixou ela tipo assim, alucinada. Era o João. Tipo feio, mas bem dotado. Intelectualmente, é claro.
Sabia de tudo, o João. E o que encantou a Narinha foi que o João falava pelos cotovelos.
- É todo atenção para mim. O cara é tipo grilo falante. Meu grilo falante, sacou?
O João também classificava gentes.
- Tem tipo feia e quente. Tipo deusa e fria. “Capicci”?, perguntava o João. Entendeu?, perguntava ele, num sotaque italiano que ajudava a enrolar as tipo dadas.
Para o João, tipo alta, tipo baixa, tipo magrela, tipo fofa, o que vinha ele abraçava.
Era tipo topa todas, o João. E era matreiro.
“Sou tipo Don Juan”, ele dizia.
Mas o que ele adorava era ser tipo Romeo.
- Em todo peito feminino mora a Julieta.
E foi assim que encontrou a Narinha, um tipo “varre todos” mas no fundo tipo Julieta.
Na primeira vista a Narinha pensou no João como tipo para sempre.
Já para ele, ela era tipo ficar.
Os dois se cruzaram e seus olhares tipo assim se encontraram, um tipo roçar de pele, tipo química, tipo coração pulsando, tipo olhares se procurando, tipo, tipo, tipo metade da maçã.
A Narinha acabara de passar três tipos, e porque um amava tipo bicho, ela vinha com pernas trôpegas, tipo acabada. E assim, tipo detonada, cansada da vida tipo uma noite apenas nada mais, ela achou o João.
Se para cada pé tem um chinelo, ali estava o par. Um vestia o outro. Perfeitamente.
A primeira visão da Narinha foi tipo fêmea. Puro cio. Mas charmoso e manhoso que o João era, ela logo se viu assim, tipo mãe. E só falava mais tipo casa, tipo roupa passada, tipo filhos.
Deu certo, os dois, tipo por uns tempos.
Mas então o João teve uma visão. “Uma epifania”, ele disse num bar escuro, dias depois, com copo de whisky na mão, tipo bêbado.
- Tive a visão do futuro que não queria.
Futuro tipo marido, tipo pai, tipo aluguel, tipo família, tipo sogra, tipo reunião na escola, tipo adolescência que não a dele.
Mas tipo homem, ele não disse isso a ela.
A Narinha estava com enxoval pronto quando a Gladis contou que o João estava tipo saindo com quatro amigas dela ao mesmo tempo. Houve gritos, choro e o típico barraco.
Ela queria que ele admitisse que estava errado. Mas ele não admitiu. E, por fim, e sem dizer palavra, o João saiu. E a última coisa que ouviu foi a Narinha gritar da porta:
- Vai Tipinho. É bem do teu tipito...