quinta-feira, 18 de novembro de 2010

É fácil mas é complicado

Alan Caldas

Ana Maria sempre dizia que amar era simples. Mas ela mesma admitia que aprender a amar não é fácil.

Ela cresceu, um namoradinho ou outro, sempre dizendo que “amar é simples”. Até que chegou a um amor, como ela disse, “dos sérios, dos bons”. E se casou.

O Alfredo era tudo de bom. Um pouco mais velho que ela, um cidadão seguro, bem posicionado na cidade, essas coisas que sogra adora. E a mãe da Aninha, vaidosa do genro, floreava a gaita enchendo o Alfredo de elogios.

O amor crescia. A barriga da Ana Maria também. E veio o primeiro filho, o Joãozinho, que foi seguido do segundo, uma linda menina, a Clara. A casa encheu e isso foi a alegria dos avós, porque sogra e sogro se derretem para os netos.

O amor “simples” do qual a Ana falava já não se tornara tão simples. Com dois filhos o tempo é muito curto. E na hora “boa” alguém chora, quer titi, está com medo, tem febre, quer água... coisas de criança.

Com duas crianças é difícil ficar bonitona. O máximo que dá é ficar limpa. E o amor “simples”, sem tudo aquilo de palavras lindas, de sexo ardente, sem presentinho, sem comidinha e sem intimidades se torna uma companhia, um vira comparsa do outro, tipo irmãos, amigos de cama, essas coisas.

Ambos cada vez mais próximos dos problemas dos filhos e mais distantes de cada um deles, a vida seguiu monótona e fria.

Um dia a Ana Maria acordou e estava só. O Alfredo se foi. Desistiu, o Alfredo, e numa atitude bem covarde meteu o pé na estrada para nunca mais voltar.

Sozinha, a Ana Maria segurou. Não sem as idiotas frases de “eu avisei” e as palavras das “amigas”, dizendo “ele sempre foi canalha”.

O Joãozinho e a Clara cresceram.

Um dia, já sem o João que foi morar longe e sem a Clarinha que acabara de ir morar com o namorado, a Ana Maria foi para a frente do espelho. Era a primeira vez em quase 20 anos, e olhando para si mesma ela decidiu arrumar um namorado, voltar a beijar, ter vida íntima, a viver como mulher não apenas como mãe.

Bonita e elegante, logo encontrou namorado. O primeiro de tantos que ela passou nos quatro anos que se seguiram.

O sexo voltou. Passeios voltaram. O se arrumar voltou. Mas o amor não havia voltado, quando a encontrei, dias atrás, em Porto Alegre.

- Mas você dizia que amar é simples.

- Pois é. Mas aprender a amar é complicado, saber pegar na mão, andar de braço, ficar de beijinhos, dizer te amo, ser feliz... é complicado.

- Mas porque, mulher?

- Ah, Alan... na minha idade parece ridículo...