Alan Caldas
Na vida sempre ocorre o inusitado, o que vem como raio, que chega como ladrão quando menos se espera. E na política, que é hiper dinâmica, serve bem isso. Na política nunca se está totalmente seguro. A morte do ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, mostra isso.
Néstor foi presidente e, após reeleger-se, colocou a esposa no lugar dele. As políticas econômicas dela se assemelhavam as dele, as práticas de pressão, de briga e pregação de ódio civil dela contra imprensa e setores como agricultura e pecuária, eram no governo Cristina idêntico ao de seu antecessor e esposo, Néstor.
O ex manobrava por trás da cortina a atual, sendo Kirchner presidente de fato e Cristina a presidente de direito. Assim, Néstor preparava-se para assumir “formalmente” (pois “por baixo dos panos” já havia assumido) o cargo de presidente. Seria “certamente” (diziam os mais afoitos) eleito outra vez presidente.
Dentro da Argentina e fora dela, os poucos seres humanos que se preocupam com o andamento do Estado de direito, que a duras penas (de morte, muitas vezes) a América Latina conseguiu conquistar, se preocupavam com dízima periódica política dos Kirchner.
Havia um plano entre marido e mulher para se revezar eternamente no Poder Público, concorrendo (e ganhando) ora um com o apoio do outro, ora o outro com o apoio de um. Isso enterraria a democracia e transformaria a Argentina numa espécie de “Ilha Kirchner”.
A compra de voto em troca de comida e casa, lá como cá vinha sendo uma prática. Os ataques a imprensa livre, lá como cá, vinham sendo uma prática. A implantação de “controle social” dos necessitados com dinheiro público, lá como cá vinha se tornando prática. A corrupção das bancadas políticas, o aliciamento dos setores altos do Judiciário, tudo vinha degringolando.
Cristina chegou a criar um grupo de Bad Boys, jovens racistas, viciados e violentos, que se especializavam em “acalmar” (leia-se: encher de porrada) quem “atacava” (leia-se: criticava) o governo Kirchner. Estava “tudo certo” para mais quatro anos de Kirschnerismo.
Mas o coração de Néstor parou.
Aos 60 anos, novinho em folha para os padrões etários atuais, seu coração estancou. Para sempre. E estancou também a “carreira” da família Kirchner na Argentina.
Sinto a morte de Néstor Kirchner. Mas ficou claro que quando Deus não joga, fiscaliza.
Tudo mais que resta ao cidadão comum é contar com os incompreensíveis fenômenos que quebram a linearidade da astúcia e voltam a dar ao Estado de Direito alguma (mesmo que pequena) esperança.