sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Felizmente o futuro será brilhante

Alan Caldas

Vieram elogiar a coluna sobre a falta de gra­ti­dão em relação a saúde pública. Mas o que es­crevi sobre a saúde, poderia ter escrito sobre a educação. A atual educação pública municipal, se comparada com o passado, pode ser consi­derada milagrosa. Eis o motivo do milagre:

Primeiro, acabou o jaleco branco. Segundo, aca­bou o regime marcial. Terceiro, dá-se livro ao aluno. Quarto, dão merenda aos alunos. Quin­to, ninguém toca no aluno. Sexto, dão trans­por­te ao aluno. Sétimo, “acolhem” aluno que antigamente seria expulso e hoje é aturado, mesmo que enlouqueça o professor. Oitavo, dão contra-turno ao aluno. Nono, no contra-turno dão refeição e mais livros. Décimo, dão aulas de conteúdo variado, não apenas de conhecimento. Décimo primeiro, dão na escola ensino de como escovar dente, que penso seja DEVER dos pais e não dos professores. Décimo segundo, dão aconselhamentos com pedagogos, não mais puxão de orelha e reguada. Décimo terceiro, dão ouvidos aos alunos bons e educados e aos maus e grosseiros. Décimo quarto, dão ou­vi­dos aos pais, mesmo que os pais, ao contrário da lógica, fiquem a favor de atitudes er­radas do filho. Décimo quinto, dão Bolsa-Esco­la. Déci­mo sexto, dão passeios grátis. En­fim, dão ao aluno tudo, e mais prédios de ga­barito, iluminação perfeita e professores bem graduados.

É uma educação milagrosa. E quem passa por uma escola dessas, provavelmente se torne um ser humano grato a tudo que lhe deram.

Entretanto, pais nunca procuram este jornal para elogiar o que a escola dá aos seus fi­lhos. E o pior é ver pais dando em casa educa­ção fami­liar diferente da que o filho recebe na escola. Na escola toda criança aprende a resol­ver conflitos conversando, aprende que fumo e álcool são ruins e que palavrão é feio. Já em ca­sa muitos pais resolvem problemas a tapa, fu­mam e be­bem na frente dos filhos e usam palavrões.

Que pais são esses? Ingratos.

Todo pai que faz em casa diferente do que o filho aprende na escola, é um sujeito sem grati­dão, sem respeito pelo que a sociedade lhe dá.

Então, não é só no tocante à saúde que as pessoas recebem mais do que pessoalmente poderiam pagar e não valorizam. É em praticamente tudo. E é por isso que acredito que todos deveríamos pagar alguma coisa, pois como a realidade está aí para provar, tudo que se recebe “de graça” acaba não tendo valor. Se os pais tivessem de pagar para ter, privadamente, a educação que seu filho recebe com o dinheiro da sociedade, provavelmente a maioria das crianças estaria fora da sala de aula.

No entanto, não podemos perder a espe­rança, pois as crianças que hoje estão na escola, amanhã nos legarão uma sociedade certamente bem melhor do que a que temos hoje.