quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vou-me embora pra Pasárgada

Alan Caldas

A criança batizada de Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, no dia 19 de abril de 1886. No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morria o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Aca­demia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.

Em homenagem ao aniversário de morte desse que é um dos maiores poetas brasileiros, publico seu mais cor­tejado poema: “Vou-me embora pra Pasárgada”:

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro bravo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito a beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água.

Pra me contar histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóides à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.